terça-feira, 29 de junho de 2010

Um ano depois... o desabafo

Hoje faz um ano que voltei a morar no Rio, e durante esse tempo, muitas coisas aconteceram na minha vida e, principalmente na minha cabeça. Depois de 18 anos morando em São Paulo, e mesmo tendo voltado para cá com a mente e o coração abertos, hoje vejo que esse não tem sido um processo fácil.

O início foi muito bom, estava empolgada com a mudança, com a vida nova, pessoas e lugares estavam sendo redescobertos, a procura por apartamento era cansativa mas prazerosa, o novo ambiente de trabalho com colegas novos também me animava e a rotina ainda não me incomodava.

Alguns meses atrás, porém, tudo mudou. Várias coisas aconteceram ao mesmo tempo na minha vida, e comecei a me dar conta de que aquela fase legal, de novidades acabara. A rotina finalmente havia se instaurado, e eu passei a ter um dia-a-dia mais “normal”.

Minha ficha caiu. Comecei a me sentir sozinha, carente. Mudanças aconteceram no trabalho (relativamente pouco tempo depois de ter vindo para cá), nas minhas relações com pessoas daqui e também com algumas com quem mais costumava conversar e estar junto em São Paulo.

Pessoas fundamentais como meus pais e minha irmã, agora estavam longe, e apesar de me darem todo apoio e me ouvirem sempre, não é como se estivessem aqui do lado. A conversa, o desabafo cara a cara, o ombro e o abraço não estavam mais tão perto pra fazer com que eu me sentisse menos sozinha.

Meu círculo de amizades hoje em dia é super restrito. Conheço pouca gente da minha idade ou que tenha gostos parecidos com o meu. Além disso, o estilo de vida aqui é outro. Por exemplo, não curto praia, o que é algo que restringe um pouco minhas opções pra me divertir, e consequentemente me impede de conhecer mais gente. Os programas que fazia em São Paulo, são um pouco diferentes dos que aqueles que faço aqui. As músicas que eu ouço, aqui ninguém mais ouve. Shows? Praticamente não sei mais o que são, não tenho companhia e, com raras exceções, não me aventuro a ir sozinha. Assim como nem sempre consigo companhia pra ver filmes menos comerciais/hollywoodianos. Praticamente não tenho com quem eventualmente tomar um chopp no final do expediente. Não é todo mundo que gosta dos mesmos livros que eu. E por aí vai...

Com isso ainda não aprendi a conviver e é algo que me incomoda um pouco. Não posso dizer que tinha inúmeros AMIGOS em São Paulo, mas conhecia bastante gente, e inevitavelmente minha vida era um pouco mais agitada.

Felizmente, todo o resto dos meus familiares está aqui. Sou eternamente grata a vários, cada um por seus motivos. Sempre me ajudaram, me apoiaram em tudo, aturaram minhas crises, enfim, estiveram (e ainda estão) ao meu lado em tempo integral. Mas mesmo assim, ainda sinto que falta alguma coisa.

Algo que agravou toda essa situação, foi uma ida recente a São Paulo. Estive com meus pais, minha irmã e alguns poucos amigos. Pela primeira vez durante esse último ano, voltei de lá extremamente balançada.

Estive em lugares onde talvez não devesse ter estado, pois fizeram me lembrar de um tempo que não volta, algo que apesar de bastante óbvio, me causou uma sensação estranha, uma espécie de frustração. Revivi algumas situações, até simples, mas das quais sempre sentirei falta. E o mais relevante de tudo, vi pessoas que não via há algum tempo e que mexeram muito comigo. Assim como não ter tido a possibilidade de ver algumas pessoas queridas, foi algo que também me entristeceu.

Sofri e chorei muito na volta ao Rio. Fiquei lembrando da vida que tinha antes, das pessoas com as quais convivia freqüentemente e das quais hoje sinto falta, e principalmente de como (acho) que era mais feliz, apesar dos pesares. Por alguns dias, a ideia de voltar a morar em São Paulo, foi cogitada. Mas nada como algumas horas de terapia e conversas com algumas pessoas importantes. Me fizeram finalmente enxergar que eu preciso ser paciente, afinal não posso querer construir em 1 ano, a vida que levei 18 para construir em São Paulo. Sei que fui precipitada, mas foi o que senti durante alguns dias.

Sem falar que se voltasse, eu teria alguma garantia de que teria aquela mesma vida de volta? Acho que não. Eu mudei, as pessoas mudaram.

Só sei que voltei de lá decidida a rever minhas amizades. Resolvi definitivamente abrir mão de falar com algumas pessoas que durante esse último ano, não me procuraram uma vez sequer para saber como estava minha vida, se estava feliz, mesmo eu eventualmente procurando-as nas minhas idas a São Paulo. Em compensação, outras me surpreenderam, o que me deixou feliz. Vale dizer, que aqui no Rio, aconteceu praticamente o mesmo processo, ou seja, tive minhas decepções, mas não cheguei a riscar tanta gente da minha vida.

No final das contas, toda essa fase de reflexão foi válida para ver quem de fato ainda merece meu carinho e minha consideração. Assim como também pude me dar conta de que pessoas que julgava fundamentais na minha vida, não são.

Quando saí do Rio, há 19 anos, a vida que deixei pra trás, era bem diferente da que encontrei ano passado. Eu não tinha a ilusão de que depois de tanto tempo, fosse encontrar tudo igual. Mas algumas mudanças foram tão radicais, que talvez eu tenha levado algum tempo para me adaptar a elas. Mas uma ilusão eu tinha sim, a de que por ser um lugar conhecido, com pessoas conhecidas, seria fácil. De fato seria bem mais complicado se mudasse para uma cidade estranha, onde não conheço ninguém, mas no fundo acho que fiquei assustada ao me deparar com a nova realidade, com o fato de que nada foi tão tranquilo quanto eu esperei que fosse.

Eis que esse foi um ano de muitas surpresas, crescimento e decepções. As saudades e as lembranças estão pesando cada vez mais, mas ainda assim eu acho que é só uma nova vida que está começando. Portanto sei que inda tenho um longo caminho pela frente, seja aqui, em São Paulo ou em qualquer outro canto do mundo. Não gosto de chavões, mas aqui um se faz necessário: “É preciso dar tempo ao tempo”. Tenho me apoiado nisso ultimamente para tentar deixar a minha vida mais light, e acho que os resultados estão começando a aparecer.

Obrigada a quem esteve e ainda está comigo durante todo esse tempo, aturando minhas crises, choros, lamentações e me dando apoio e carinho! E lendo os meus desabafos !