segunda-feira, 23 de novembro de 2009

Homenagem

Ontem foi um dia especial para mim. Minha irmã fez aniversário, e foi um dos poucos em que não pude estar com ela depois de tantos anos.


Queria ter escrito algo antes da data, mas não consegui e como vi que ainda demoraria alguns dias para fazer isso, acabei lembrando de um texto escrito 5 anos atrás e resolvi resgatá-lo.

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HOMENAGEM

Há exatamente vinte e nove anos minha vida mudou. Eu que era uma criança de dois anos jamais imaginaria que aquela criaturinha recém saída da barriga da minha mãe se tornaria uma das pessoas mais importantes para mim.

Acho que o fato de não ter sentido ciúmes dela, algo muito comum nessas situações, foi o primeiro indício de que aquela seria uma ótima relação entre duas irmãs. Desde sempre foi um privilégio poder conviver com alguém tão especial.

Não é com qualquer um que se troca discretos olhares, suficientes para saber o que a outra está pensando ou sentindo. A sintonia é total e percebida por todos e só quem tem o privilégio de ter um irmão ou irmã pode entender a importância de uma relação como essa.

Fico indignada ao ver irmãos brigando, é algo que me entristece e não entra na minha cabeça. Lógico que não escolhemos a família onde vamos nascer, mas o amor por pais e irmãos é algo que me parece ser inerente ao ser humano e, justamente por isso, quando não acontece me assusta um pouco. Claro que infelizmente há algumas exceções.

Eu não escolhi minha irmã, mas sou eternamente grata por ter tido a imensa sorte de tê-la na minha vida.

Lembro que sempre a provocava dizendo que ela havia sido encontrada num cestinho na porta de casa, bobeira na qual ela acreditou por longos anos, mesmo tendo visto fotos da minha mãe grávida, dela recém nascida, de cartões comemorando a chegada dela. Como me diverti às custas disso !

E ela continua me divertindo até hoje. É a única pessoa que conheço que é capaz de ver um filme super bobo e rir, mas rir tanto e de forma tão engraçada que te dá vontade de rir também. Isso é especial.

Memórias da nossa infância são inúmeras. Teve uma vez em que ela toda fofa resolveu deixar eu brincar de cabeleireiro e estragar o cabelinho loiro dela de tal maneira que a única solução foi cortar “Joãozinho”. Jamais reclamou ou brigou comigo por causa disso. Noutra ocasião me ajudou a “assaltar” a casa de uma amiguinha do prédio e depois me defender quando vieram me acusar.

Nossas peripécias infantis são tantas e tão divertidas que seríamos capazes de entreter platéias por horas com nossas lembranças.

Fofocas, segredos, confissões, decepções, discussões, muita risada. Quanta coisa eu ganhei com a chegada dessa menina!!!!

Como se não bastasse ser uma irmã perfeita, é uma filha dedicada, uma namorada irrepreensível, uma profissional excelente, uma grande amiga e querida por todo mundo. Vai ter fã assim lá no Orkut !!! Algo que, aliás, a boba não teve paciência de aturar e pediu para que a tirasse de lá. Pena, teria testemunhos lindos de muita gente que a adora. A prova disso foi ver no último final de semana um salão cheio de pessoas que a amam e estavam lá pelo simples prazer de estarem ao seu lado.

Vou ter sempre saudade das nossas andanças de sábado pelas ruas de São Paulo, tardes em casa fazendo deveres de casa e passando trotes, férias passadas na piscina do prédio, brigas, unhadas e pontapés que renderam muito mais do que dores. Lembranças deliciosas.

Mas tenho que me conformar que o tempo passa, a vida muda e muitas das coisas que fizemos num passado não tão distante assim, hoje são apenas lembranças que dão lugar a novas e interessantes descobertas, pessoas e lugares.

Sei que um dia ela vai sair de casa e deixar muitas saudades, mas pra onde quer que ela vá, seja pra outro continente ou pra outro bairro, vai ter sempre uma pessoa pensando e torcendo pela felicidade dela.

Que Deus me permita poder conviver com ela por infinitos anos.

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Foi bastante curioso ler esse texto 5 anos depois. Algumas coisas mudaram nesse meio tempo.

Ela se mudou relativamente pouco tempo depois dessa data. Três anos atrás eu também fui morar sozinha. Tais mudanças fizeram com que nos distanciássemos um pouco, mas pouco mesmo. Nada que tenha alterado nosso relacionamento, apenas nossa convivência passou a ser menos freqüente.

Mas há 5 meses houve uma mudança bem mais radical. Vim morar a quase 500 km de distância dela. Nos falamos diariamente, mas nos vemos muito pouco. E numa dessas vezes, três semanas atrás, ela veio me visitar e passar 3 dias comigo. Foi um dos feriados mais felizes dos últimos tempos. Pudemos reviver várias dessas situações das quais sinto eterna falta e comprovar absolutamente tudo isso que continuo sentindo e pensando sobre ela.

E talvez tenha sido a despedida que mais me fez chorar em toda vida, curiosamente mais do que no dia em que me mudei para cá.